7 segundos de vácuo

É cedo. Do outro lado da rua, começa a chover. A cada pingo de água, 1 litro de sangue. A cada litro de sangue, 2 anos de inocência. Sou novo. Em 3 minutos sinto a consciência afogada nela mesma. Ainda não anda ninguém na rua a esta hora. O resfolgar do vento empurra-me para fora do meu corpo. Desse lado, reprovo-me. Desse lado, vejo-me a fechar os olhos envergonhados deles mesmos, como se desse lado eu fosse melhor. Ao comando, os músculos esmagam-se contra os tendões. Forçados, os ossos tocam em frente o corpo preso ao chão por toneladas de culpa. Já não sou humano. Sou a montra de uma alma cadavérica agonizando na sombra de um dia morto à nascença. Sinto ácido e vidro moído a percorrer as veias. Sinto as mãos ardentes de gestos fátuos. Os olhos vazios de cor. Sinto a vida como a uma pena. Leve, solta e insignificante. Acabado de ingerir a minha vida inteira ao pequeno-almoço, já tenho fome. O meu coração, o único sinal de vida que possuía, matei-o eu. Queria essa satisfação só para mim. No momento seguinte queimei o meu último sorriso. É cedo. Mas consegui.

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