Talvez?
“Talvez” não é palavra, não é resposta.
É um placebo capaz de matar,
um ponto médio entre uma infinidade de extremos,
a panaceia dos irremediavelmente enfermos,
o ópio dos nauseados do modo como as cousas vão estar,
Mesmo que venham a estar de forma oposta.
É o primeiro relâmpago..
É uma espera sem prazo
eterna distância
o sonho antes de sonhado
um desvario de esperança.
É o risco de quem nada tem a perder
o que não se entende:
das sombras na caverna
ao facho de luz que as acende.
É um abraço no escuro
uma carícia de novo adiada
a ausência do significado
numa página rasgada.
É uma cegueira penetrante
o jamais porvir
o morrer a cada instante
e o segundo a seguir.
O doce de um estranho
razoável demência
outro cigarro
ausência.
É uma cura nociva
um poço de desejos inúteis
uma palavra atravessada na garganta
todas as madrugadas fúteis
uma angústia sem motivo
uma bala perdida no ar
um amigo irreconhecível
súbito suspirar
São gestos erodidos
uma frase riscada.
Talvez não é mais
Que um tédio de tudo
Num excesso de nada.
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