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Não se espera senão morrendo. Quando regressas não é para mim, mas para o que dele restou.

Comentários

BookOwl disse…
Nem na proximidade da morte devemos esperar.
Pois ela, austera, fria, não se atrasa nem se adianta. Vem.
Tão certa quanto a vida, são cumplicices eternos.
Uma não existe sem a outra e a outra só existe com essa.
Se vives, morres. Se morres, foi porque viveste. Nada mais é tão certo.

Toda a nossa vida nos gastamos. Gastamos e acumulamos o que se desprendeu de outros.
Como sanguessugas. Vampiros de olhos cálidos e mãos frias.
Que sugamos, chupamos, esmagamos, esprememos, torcemos até à última gota para as deixar perdidas.
E os pedaços que deixamos perdidos foram outrora de almas já hoje moribundas. E um dia seremos nós corpos inerts sob a terra. E o que foi gasto perdurará, enquanto que os pedaços que acumulamos em nós desaparecerão.

Completamente desinspirada...

*** *** *** *
Daniel Marinha disse…
"Nem na proximidade da morte devemos esperar."

E no entanto esperamos porque não há outra hipótese. Esse será um dos suportes, ou melhor, uma maneira de nos referirmos a um dos suportes, sobre o qual nos vamos equilibrando.
O que fazemos enquanto se espera, por exemplo se nos entretemos a ignorar que esperamos ou por outro lado se nos obcecamos com a própria ideia da inevitabilidade da espera, são os adornos com que se preenche o tempo. São escolhas. O ponto de partida É. O percurso vai sendo.

"Tão certa como a vida, são cumplices eternos."

Sem dúvida. Como tudo o resto. Disse-o noutro lado e não fui o primeiro nem serei o último, e até já isto o disse antes ("a originalidade não está tanto no descrito quanto na descrição"). A velhinha parelha Yin/Yang que do meu ponto de vista só seria melhor se ao invés de os contornos e limites de separação serem bem definidos, fossem antes uma linha de dimensão fractal. Como ilustração gramatical, o exemplo de se poder descrever o nosso tempo de existência através de frases aparentemente opostas (e são-no) mas com o mesmo significado, como "Mais um dia da minha vida", como quem diz "Vivi", ou "Menos um dia na minha vida", dizendo-se "Morri".

Aproveitando que pintaste tudo de negro antes de mim, explorarei eu o lado luminoso da dualidade. Onde falas de vampirismo, poderei falar de aprendizagem. Onde falas de um ciclo de pedaços mortais, poderei falar de ideais eternos. E a beleza de tudo é que não é nenhuma contradição. Eu, como tu, sou adepto do yang. Acho que o verdadeiro esforço está em reconhecer o outro lado de tudo.

E ainda te dizes desinspirada..