Ritual

Ela abre os olhos.

Toma consciência do corpo estendido ao seu lado

mesmo antes de lhe sentir o calor,

antes de lhe ouvir a respiração,

antes mesmo de pensar em se recompor.

Só passado um segundo, recorda

e com a consciência do contraste,

some-se o sorriso que a despertou

antes da luz,

antes da hora,

antes mesmo de ter despertado.

Vacila.. mas nem repara.

Respira fundo fechando os olhos

e passa os dedos pelas pálpebras cansadas,

pelos cabelos diáfanos,

recompondo o corpo despertado pelos gestos

adormecendo a ideia despertada pelo contraste

e sem qualquer esforço,

sem abrir espaço à perplexidade,

esquece tudo de novo..

E de novo um sorriso.

Uma mistura imperceptível

que tendo tanto de diferente como de indiferente,

é um sorriso antes de mais

e acima de tudo,

suficiente.

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