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É noite de tempestade no castelo da demência 
Montado nas escarpas afiladas da montanha,
Onde rondam sombras de chacais dementes 
Todos eles sombras, com bocas e dentes 
E um cheiro a podre que se estranha
E transfigura em medos diferentes.
 
É noite de tempestade no castelo da demência. 
Há um brilho ausente que persiste
Na saída do jardim das traseiras, 
No fundo do poço por entre as roseiras, 
Está alguém deitado de coração em riste 
E uma carta no peito, por entre as artérias.
 
É noite de tempestade no castelo da demência. 
O vento desenha formas na chuva dolente:
Árvores derreadas, animais escondidos. 
E corvos pousados por sobre os postigos, 
Animados de vida ausente, 
Sussurram canções em tons aflitivos.
 
É noite de tempestade no castelo da demência. 
Onde todos os minutos são preâmbulos soturnos 
Da dança circular dos sonhos macabros. 
Por entre os braços acesos dos candelabros 
Arde a luz suja dos emblemas nocturnos 
Acrescentando às sombras, sombreados.
 
É noite.
A tempestade adensa-se
E os gentios na vila estremecem 
A cada troar,
Quando a luz cega 
E as sombras crescem. 
 
É noite. 
No castelo ensombrado,
Chora de dor a senhora, 
- Chora de dor e loucura! -
 
E das lágrimas correm sombras 
Que serpenteiam rumo ao jardim nas traseiras 
Onde no fundo do poço, por entre as roseiras,
Se abraçam a alguém lá deitado.
 

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