O mar numa prece

Sigo o rumo, ainda que numa direcção oposta, e sorrio dizendo - Qualquer rumo é um rumo - esperando que o mar me sorria de volta antes de submergir, cansado de um mundo que pula e avança, cansado de me deixar ir por cair do dorso dessa espécie de cavalo esférico com uma sela porventura orgânica, mas com o núcleo indomávelmente inerte ainda que toda a gente a fingir que não, fiz-me ao mar numa prece: "Haja vento, pois as minhas velas estão pandas, e os pontos que as coziam, dizem, nunca existiram. Hajam ondas, pois a vontade só não chega para carregar este barco. Haja pão, pois a viagem é longa e o bolor que nasce nele fará companhia ao que cresce de mim. Hajam, nuvens que esse sol cego cega-me duas vezes a mim, cego maior que nunca quis ver nem ser visto pelo dia." Quem me dera uma fotografia a preto e branco que me fizesse lembrar de absolutamente nada.. Um fôlego que não me asfixiasse.. Uma lágrima que não fosse de ninguém e que se limitasse a ser o que era.. Uma lágrima apenas, só, pela companhia.., e o Mar. Se a Terra é esférica, que o Mar seja plano e limitado, com uma borda onde termine ele, eu e a nossa história.

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