Paisagens duvidosas

Tenho ideias fantásticas para actos inconsequentes em paisagens duvidosas, onde o troar das ondas na praia me ajudariam a adormecer e a acordar, sem nunca, nunca perturbarem o meu sonhar.. Mas parece que o único reflexo disso nesta realidade indigesta, é a corrosão lenta mas constante do meu corpo sob a acção da salitre marítima. Até esses sonhos, outrora pacíficos, são agora atlânticos em natureza. Sonhos densos, como se o meu subconsciente quisesse desesperadamente condensar todos os meus desejos fragmentados num único segundo, embrulhando-os depois nessas ondas irrequietas que os carregam até às minhas costas, onde rebentam. E eu acordo com o barulho da explosão, num contraste que me cega, na falsa confusão de fingir não saber distinguir o esplendor utópico da obscura certeza.

Eu sei que sou o engano, a traição personificada: É em mim que todas as interpretações são erradas.. Eu sou a consciência baça de mim mesmo, e o espaço que me isola não é distância, é culpa. O próprio acto de o descrever, me denuncia. Afinal, um nado cego ignora a própria cegueira. Não sabe nem nunca saberá da natureza sua própria condição porque, por definição, ninguém lha conseguirá mostrar. Dirão “Não vês” e ele acredita que não, mas desconhecerá para sempre o quê. A minha cegueira não é mais que isso mesmo: a minha cegueira.

Revejo no tempo que vai passando, dissimulado como um felino, os espaços onde me deixei perder em momentos que eu deixei escapar.. Sabendo hoje como pago por todos esses enganos, apenas me arrependo da hora em que olvidei o quanto me souberam bem na altura.